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DOM ADÉLIO TOMASIN, o Bom Pastor que à Casa Paterna Retorna (Crônica)

Capa da Notícia

Descortinava-se a manhã do dia 30 de setembro de 2024, quando a cidade de Quixadá e a circunvizinhança acordaram com a notícia de que nosso Bispo Emérito de Quixadá, Dom Adélio Tomasin, havia feito sua Páscoa. O Bom Pastor, que em vida viveu e serviu segundo o Evangelho de Jesus Cristo, como servo da Santa Sé da Igreja Católica e Apostólica Romana, havia descansado!

Diante do ocorrido, mergulhei em uma retrospectiva histórica, percorrendo as pegadas e feitos do bom pastor durante seu apostolado cristão e, em particular, no governo episcopal da Diocese de Quixadá, reverberando: “Antes mesmo de te formar no ventre materno, Eu te escolhi; antes que viesses ao mundo, Eu te separei e te designei para a missão de profeta para as nações!” – Bíblia Sagrada: (Jr. 1:5).

O discípulo de Jesus Cristo recebeu na pia batismal o nome de Adélio Giuseppe Tomasin, nascido em Montegaldella, província de Vicenza, Itália, no dia 27 de abril de 1930, filho de Santo Tomasin e Marina Galesso. Segundo a Ordem de Melquisedeque, ordenou-se sacerdote em 26 de março de 1955. Assumiu diversas missões no Brasil e no exterior, até ser eleito Bispo da Diocese de Quixadá pelo Sumo Pontífice, o Papa João Paulo II, em 16 de março de 1988, tendo recebido a Ordem Episcopal e tomado posse em 29 de maio do mesmo ano.

O Pastor Diocesano desempenhou seu governo pastoral sem, contudo, deixar de alargar a visão benfeitora em prol da caridade, do desenvolvimento local e regional, tampouco descuidar-se da condução do rebanho cristão que lhe fora confiado, nem dos ousados projetos de engenharia, arquitetura e da veia artística nas diversas expressões das artes, nas quais o sagrado, a natureza, a vida simples e bucólica se tornaram sua maior inspiração.

Na majestosa Serra do Urucum, em Quixadá, projetou e se envolveu diretamente na construção do obelisco cristão, o Santuário Mariano, uma imponente obra visionária para o culto cristão, onde o céu e a terra se abraçam, rememorando, pela fé, a aliança celebrada entre Deus e os homens.

Preocupado com a saúde dos quixadaenses e dos munícipes da Região do Sertão Central, o pastor diocesano edificou o Hospital Maternidade Jesus Maria José; idealizou, no complexo do Santuário Mariano de Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão, a parte de hotelaria, restaurante, centro de eventos, amparo aos romeiros e infraestrutura para acolher turistas, cuja inauguração se deu em 1995; idealizou e fundou a Faculdade Católica Rainha do Sertão, em 2007, que posteriormente se tornou o Centro Universitário Católica de Quixadá, sendo Chanceler da instituição por vários anos.

O compromisso com a pastoral evangelizadora, com a ação social e com os menos favorecidos levou Dom Adélio a angariar recursos no cenário local, nacional e no exterior, para criar inúmeros projetos de apoio e acolhimento para a população mais frágil da urbe e região, em diversas áreas e ações.

Em observância ao Código de Direito Canônico da Santa Sé, prestes a completar 77 anos de idade, o apóstolo do bem abdicou do governo pastoral da Diocese de Quixadá, cuja renúncia foi aceita pelo Papa Bento XVI. Apesar de seu afastamento das diretrizes apostólicas, o compromisso e desempenho como empreendedor prosseguiram, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento do potencial e das melhorias socioeconômicas da população local e da região, confirmando o que dissera o Mestre Jesus Cristo, segundo a narrativa do Evangelho: (Lc. 12,34) – “Onde estiver o vosso tesouro, aí, também, estará o vosso coração.”

Na condição de articulador, junto ao Governo do Estado do Ceará e a instituições educacionais, Dom Adélio colaborou para a criação de campi e postos avançados de instituições públicas, propiciando o crescimento e a oferta de cursos superiores na cidade e região, além de potencializar o desenvolvimento da educação superior privada. Fundou e manteve uma escola de nível técnico, que oportunizou aos jovens de Quixadá e região o acesso à profissionalização em nível técnico.

Em parceria com empresários locais, idealizou e criou a Faculdade Tecnológica de Quixadá – CISNE, sendo seu Chanceler, como forma de desenvolver o Sertão Central Cearense, democratizar o saber acadêmico, promover a inclusão social pela formação profissional e transformar a realidade socioeconômica pessoal e familiar da população local e circunvizinha.

Articulou e fundou, com um consórcio empresarial, a nova instituição de ensino superior quixadaense que, por reconhecimento e mérito, leva seu nome: Faculdade Dom Adélio Tomasin – FADAT, da qual foi Diretor Geral até a data de sua morte. Um legado institucional cujo reconhecimento de cursos com nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC) ele teve a felicidade de comemorar. Dessa forma, o apóstolo da educação conferiu a Quixadá o título de cidade universitária do Sertão Central.

Enquanto membro da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência, presidiu, até seu falecimento, a Fundação Quixadaense de Fomento e a manutenção do Remanso da Paz – Casa de Acolhida São João Calábria, que abriga, em regime semiaberto, idosos da terra dos monólitos. Ali, o bem-aventurado presidia a Celebração Comunitária da Santa Missa e mantinha, com regularidade, a agenda de atendimento aos que buscavam o sacramento da confissão, da eucaristia e preces para alívio e cura dos males do corpo físico e da alma, pela imposição de suas mãos ungidas pelo Espírito Santo de Deus. Sua residência era ponto de peregrinação para fiéis que buscavam o bálsamo curativo pela fé. Culturalmente, a cidade compartilha relatos de populares da urbe e da circunvizinhança que receberam curas físicas e espirituais pela fé, tendo Dom Adélio como intercessor, embora o benfeitor, em sua humildade, silenciasse acerca dessas afirmativas!

Se no passado o Padre Cícero Romão Batista fomentou e alavancou, pela fé, a liderança pastoral e política que impulsionou o desenvolvimento da cidade de Juazeiro do Norte – Ceará e região, Dom Adélio Tomasin, pelo ministério presbiteral e pela liderança junto aos entes governamentais, políticos, empresários e demais segmentos da sociedade civil organizada, alavancou, igualmente, o crescimento e o progresso da cidade de Quixadá – Ceará e região. Indubitavelmente, a história e a trama do progresso se entrelaçam mais uma vez para forjar o desenvolvimento e perseguir a melhoria da qualidade de vida dos que habitam a urbe, suas cercanias e demais freguesias, por meio de um sacerdote cristão.

Por seu ministério, pelos relevantes serviços prestados ao Brasil e ao exterior, pelo Governo Episcopal à frente da Diocese de Quixadá, pelo papel de articulador incansável junto aos governos e demais órgãos de Estado da administração pública, pela dedicação à Igreja Católica e Apostólica Romana e seus desafios frente à evangelização e à assistência aos vulneráveis, pelos inúmeros empreendimentos voltados para os mais necessitados, pelo relevante papel enquanto embaixador da educação na região do Sertão Central, cercanias e no país, enfim, pelos demais serviços que a história, certamente, encarregar-se-á de enumerar, o enviado da Divina Providência mereceu diversos prêmios, títulos, comendas e honrarias, dentre os quais o “Troféu Sereia de Ouro”, criado pelo Grupo Edson Queiroz, por intermédio do Sistema Verdes Mares de Comunicação, e o título de Imortal da Academia Quixadaense de Letras – AQL, dando nome à Cadeira 39, na qualidade de Patrono Perpétuo, sendo o primeiro agraciado a receber tal honraria ainda em vida.

Se, no final do século XIX, a Igreja Católica de Quixadá, através de estrangeiros (os Monges Beneditinos), implantou na antiga Serra do Estevão, atual distrito de Dom Maurício, o embrião da economia, fé, educação e progresso do município e região com a fundação do antigo Colégio São José e, por conseguinte, a fundação do Mosteiro de Santa Cruz, no presente, a história local se redesenha na roupagem evolutiva da modernidade, sob a batuta de outro estrangeiro radicado no Brasil, o Bispo Emérito Dom Adélio Tomasin.

Sempre mantive o entendimento de que flores devem ser ofertadas em vida! Quantas vezes, na qualidade de amigo, presenciei a reserva do benfeitor quando lhe rendiam homenagens. Ele, com humildade, não se julgava merecedor e dizia que “os méritos eram daquele que o enviou.”

Hoje, na qualidade de servo ungido pelo pastor, como ex-professor do Seminário Diocesano (embrião da Faculdade Católica de Quixadá), associo-me aos quixadaenses, aos munícipes da região e demais congregados para render graças a Deus e orar pelo maior dos benfeitores da história do município de Quixadá ao longo dos cento e cinquenta e três anos de emancipação política, tornando-se “sal et lux ad vitam”.

Hoje, aos 90 anos de idade, o Cristo te chamou. Que Ele enxugue nossas lágrimas, cure-nos da orfandade da saudade, conforte-nos e nos sustente para seguirmos seu exemplo, vivendo, na prática, os ensinamentos do Bom Pastor. Que Ele te receba na Terra Santa, levando-te à presença do Altíssimo, ó apóstolo da causa divina, discípulo da caridade, do amor, benfeitor dos pobres, injustiçados e dos menos favorecidos.

Segue em paz, ó bom pastor e patriarca da educação.

(Crônica escrita pelo professor Antônio Martins de Almeida Filho, aluno do Curso de Direito da FADAT, 6º Semestre, homenageando o fundador da Instituição).

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