Valdélio Muniz
Professor do Curso de Direito da FADAT
Vivemos num momento em que tudo parece efêmero, passageiro. Como diz o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, a modernidade é líquida. E tudo que é líquido, simplesmente se esvai entre nossos dedos. Mas, será que nada há de ser, de fato, sólido, consistente, duradouro? Na contramão desta tendência, Dom Adélio Tomasin conseguiu nos mostrar, em sua passagem terrena, por seus inúmeros legados, que é possível, sem dúvida, tecer construções seguras, firmes, perenes.
Nascido na província italiana de Vicenza, quis o destino que Dom Adélio passasse por lugares distintos como Uruguai, Nigéria e Rio Grande do Sul até conhecer, se instalar e, convictamente, se apaixonar pelo sertão cearense, tendo fincado a bandeira do seu amor pela Cidade dos Monólitos. Sim, Quixadá foi que conquistou seu coração e despertou-lhe apego incomparável.
Pergunte a qualquer criança: o que faz um sacerdote? Muito provavelmente, se já catequizada, ela há de responder que o sacerdote ensina aos fiéis o caminho que nos leva a Deus.
Em se tratando de Dom Adélio, a resposta está em parte correta.
Mas, por que apenas em parte?
Porque, de fato, ensinar era apenas uma de suas maiores virtudes e uma de suas paixões. Não é à toa que parte significativa do seu legado guarda relação com o ensino. Ele sabia, tinha plena consciência, de que a educação é um caminho transformador de vidas. Um dos maiores bens que se pode deixar para alguém. E quantas vidas, incontáveis, ele transformou por meio da educação!
Dom Adélio pensava muito além do que outros poderiam imaginar. Enxergava bem mais distante do que outras visões alcançavam.
Vislumbrou sobre um monte rochoso a construção de um admirável santuário e viabilizou o acesso de tantos fiéis até o seu topo, colocando Quixadá no mapa do turismo religioso.
Apostou num ensino não apenas de qualidade, mas, principalmente, inclusivo, mesmo quando já poderia ter simplesmente pendurado suas sandálias.
Construiu canais de comunicação entre a Igreja, cuja diocese conduziu por quase duas décadas, e seus seguidores.
E pensou na saúde de todos, viabilizando meios para amenizar não apenas as dores espirituais.
Enfim, entre tantos legados, hão de perguntar, não tinha ele também defeitos? Claro que sim. Qual ser humano não os tem? Mas, a quem os importa? Na sua trajetória não foram eles que o tornaram inesquecível!
Aos que ficam, os desafios são imensos: a começar por superar a dor de sua perda material, terrena, e, sobretudo, de manter acesa a chama que certamente ele deseja, lá de cima, ver brilhar com intensidade cada vez maior, como prova de que seus ensinamentos não foram de fato em vão e que o efeito multiplicador é o que mais ele nos inspira. E sempre com seus mesmos propósitos.
Força, fé e esperança a todos que formam a família ampliada que ele tão bem construiu, com o mesmo zelo com que, pessoalmente, não apenas inspecionava, mas auxiliava em cada uma de suas edificações, com a simplicidade que até hoje emociona os que com ele puderam interagir e que são testemunhas eloquentes de tantos dos seus legados.