A Educação a Distância (EaD) chegou para ficar no Ensino Superior brasileiro. É o que demonstra o mais recente Censo da Educação Superior, divulgado em setembro de 2018 com dados de 2017: EaD teve o maior salto desde 2008, crescendo 17,6% de 2016 para 2017. O número é um indicativo da repercussão que podem ter as medidas de conselhos profissionais excluindo esses egressos da prática profissionais. A mais recente dessas medidas se deu na sexta-feira, quando entidades representativas de Arquitetura, Farmácia, Medicina Veterinária e Odontologia divulgaram uma resolução proibindo estudantes formados nessa modalidade de exercerem a carreira. Elas argumentam que não é possível garantir formação de qualidade com aulas online e que atividades práticas são essenciais.
Representantes de universidades que oferecem a modalidade a distância decidiram ir à Justiça contestando a decisão. Enquanto as discussões se mantêm, especialistas em educação destacam a importância de os interessados nessa forma de Ensino Superior saberem separar o joio do trigo. O número de opções tem crescido, e, assim como nas instituições de ensino presencial, uma avaliação cuidadosa de cada curso deve anteceder a matrícula.
– O cidadão tem várias fontes de consulta para conferir a qualidade das instituições que oferecem EaD. Primeiro, o próprio Ministério da Educação (MEC), a instituição e o curso precisam estar credenciados. Os cursos são avaliados, recebem nota. E as boas instituições querem manter sua reputação. Aquela que oferece um curso presencial com boa reputação vai querer ter um na EaD ruim? – questiona o diretor da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Carlos Longo.
PROIBIÇÃO NÃO DEVE SER MANTIDA
Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Sérgio Franco, há cursos de baixa qualidade tanto presenciais quanto a distância. O fato de ser EaD, por si só, não diz se o curso tem ou não qualidade.
– Costumo dizer que a questão não é se o curso pode ser EaD, mas o que pode ser a distância em cada curso. Então, o aluno deve informar-se sobre a carga horária presencial e avaliar se ela faz sentido. Porque todos têm uma parte presencial, não existe curso superior 100% a distância – afirma o também coordenador do curso de Pedagogia da UFRGS.
Tanto Franco quanto Longo dizem que, apesar das restrições impostas por conselhos profissionais a egressos de cursos EaD, os alunos devem manter sua rotina normal. E quem está decidido a entrar na modalidade também não deveria adiar planos.
– Os conselhos terão de voltar atrás, a Justiça vai mandá-los fazerem isso – diz Longo. – Outros já tentaram, foram derrotados e tiveram de recuar. Se o MEC valida o diploma, os conselhos têm de aceitar, não são eles que dizem se o curso vale ou não. Podem fazer como a Ordem dos Advogados do do Brasil (OAB), um exame para os egressos, por que não? Mas para todos, não só para os de EaD.
Na mesma linha vai a argumentação do professor da UFRGS:
– Judicialmente essa medida divulgada pelos conselhos não tem futuro. Acredito que o aluno não deva se guiar por decisões desse tipo dos conselhos profissionais, mas pela qualidade dos cursos, devem escolher bem e avaliar a instituição, isso sim.
FIQUE SABENDO
Em 2017, dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) revelaram que os estudantes de EaD chegaram a quase 1,8 milhão, 21,2% do total de matrículas em todo o Ensino Superior.
E o número de cursos no país passou de 1.662 (2016) para 2.108 (2017), o que representou um aumento de 26,8%.
O QUE LEVAR EM CONTA NA ESCOLHA DO CURSO SUPERIOR A DISTÂNCIA
CREDENCIAMENTO
– É importante saber se a instituição e o curso estão credenciados pelo Ministério da Educação (MEC). O credenciamento é exigido por lei e, sem ele, a instituição não tem permissão para oferecer cursos superiores. A Associação Brasileira de Educação a Distância Abed oferece consulta em seu portal.
– O estudante que ingressar em uma faculdade sem essa regularidade não obterá seu diploma e não poderá exercera profissão.
– As primeiras turmas de um curso em uma instituição devidamente credenciada são sempre iniciadas antes do reconhecimento, que deve ser solicitado pela instituição quando a primeira turma cumprir entre 50% a 75% do curso.
INFRAESTRUTURA
– Pela lei, todo curso superior EaD precisa aplicar provas finais presenciais. Além disso, os cursos a distância têm carga presencial que varia conforme a opção, com atividades individuais ou em grupo.
– Por isso, não deixe de se informar sobre a estrutura e a localização do polo mais próximo da instituição em questão. Avaliar a distância e o tempo de deslocamento devem ser considerados para evitar transtorno maior do que o benefício de poder ter aulas a distância.
– Se possível, visite o local e observe as condições das salas de aula, dos equipamentos, dos laboratórios e da biblioteca. Conforme o curso, essas instalações podem fazer a diferença para o aprendizado.
PROFESSORES
– É importante conhecer corpo docente: veja se é qualificado. No portal do MEC, é possível ver a nota de cada curso nesse quesito.
– Também é importante ficar atento à metodologia de ensino, às tecnologias empregadas e aos materiais didáticos disponibilizados.
– Compare a carga horária de cursos presenciais com a oferecida na modalidade a distância. Caso se ofereça muito menos tempo, procure mais detalhes sobre o curso e questione isso junto à instituição.
– As redes sociais são ótima ferramenta para fazer contato com alunos atuais ou aqueles que já tenham concluído o curso. Confira qual a percepção que eles tiveram da experiência como um todo.
Fonte: fundacred