O Nordeste tem quase todo o seu território incrustado no Semiárido, tendo como características principais a baixa pluviosidade, sendo as secas cíclicas fenômenos medonhos que causam o êxodo do sertanejo do campo há séculos. Mas, como disse Euclides da Cunha em sua obra maior, “Os Sertões”, “o sertanejo é antes de tudo um forte”. E essa fortaleza advém das orações, promessas e procissões que se espalham por terras áridas. Os santos são, para o sertanejo, a fonte de fé que ajuda na resiliência e na crença para períodos de bonança.
E o que é um santo? Conforme o dicionário, santo é o que pertence à religião ou aos ritos sagrados; relativo à divindade, que serve a uso sagrado. Para a Bíblia, além do conceito de pureza e de ausência de pecado, o conceito de santidade também está relacionado com a dedicação de uma pessoa a Deus. Já para os hagiologistas, para ser considerado um santo perante os fiéis, é preciso passar por três etapas: confirmação das virtudes heroicas, beatificação e canonização. Estas últimas duas exigem comprovar um milagre.
Com efeito, para o sertanejo de nossas paragens, mesmo sem as aprovações do Vaticano, são considerados santos o Padre Pio, o Frei Damião e o Padre Ibiapina. A dialogia de divindades tem em comum a crença do vulgo em seus milagres e de suas intercessões junto ao Pai Maior.
Se a bondade, amor ao próximo e respeito aos cânones da Santa Madre Igreja caracteriza um santo, é certamente encoberto no manto da santidade o sempre bispo emérito de Quixadá, Dom Adélio José Tomasin. De origem italiana da província de Vicenza, estudou o segundo grau e o curso de Filosofia no Seminário Maior de Verona. Cursou Teologia no Seminário Arquidiocesano de Ferrara e, posteriormente, foi ordenado sacerdote.
Primeiramente, foi reitor da Casa de Formação de Roncà em Verona. Passou pelo Uruguai e, em seguida, no ano de 1962, chegou pela primeira vez ao Brasil, indo residir em Porto Alegre, onde fundou o Centro Social Padre João Calábria. Retornou ao velho mundo, mais precisamente a Londres, para fazer estudo de linguística. Depois da Inglaterra, foi morar na Nigéria. Em 1972, regressa à Itália, onde assume o cargo de Superior Geral da Congregação dos Pobres Servos da Divina Providência.
Regressa ao Brasil no ano de 1984, indo residir novamente em Porto Alegre. Em 16 de março de 1988, é nomeado então Bispo para a até então sede vacante Diocese de Quixadá, tomando posse no dia 26 de maio. Desde então, começa uma série de transformações e inovações na Diocese. Entre suas principais benfeitorias estão o Hospital-Maternidade Jesus, Maria e José, a Faculdade Católica Rainha do Sertão, o Santuário Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão. Consolida também o Seminário Maior Diocesano de Quixadá e empreende muitas obras inspiradas em seu espírito altruístico e capacidade empreendedora. Aos 77 anos, no dia 3 de janeiro de 2007, teve sua renúncia aceita pelo Papa Bento XVI.
Com seu bispado, Dom Adélio transformou não somente a realidade eclesial, mas em suas ideias inovadoras e sua visão de futuro conseguiu mudar a vida de uma cidade e de uma região do Ceará, o Sertão Central. Atualmente, como Bispo Emérito de Quixadá, Dom Adélio exerce a função de Chanceler na Faculdade Fada-te, possibilitando a formação de mais 5 mil jovens em diversas profissões, mudando fortemente o perfil educacional da região e a forma de ver e enfrentar a vida.
Dom Adélio, por sua obra social nos Sertões Cearenses, como dito pela etimologia das palavras Santo, é um separado, um justo, um escolhido por Deus para semear o bem, a caridade e a justiça social. Ave Santo Dom Adélio! Que o Vaticano diga amém!
Escrito por:
Cirilo Pimenta – Prefeito de Quixeramobim
Artigo publicado no Jornal Opinião em 13/12/2023 – ANO II – EDIÇÃO Nº 589 – FORTALEZA – CE